terça-feira, 1 de setembro de 2009

Café como Alimento Funcional

Um hábito comum na em algumas regiões é molhar a chupeta do bebê na infusão de café para que a bebida pudesse ser consumida por bebês. Na Guatemala o habito encontra um terreno fértil, lá os bebês ingerem a bebida logo após o desmame (UFMG - BOLETIM INFORMATIVO, 2005). A inclusão do café na alimentação infantil intriga pesquisadores do mundo todo, gerando dúvidas sobre os efeitos para a saúde.
Com a realização de pesquisas durante o tempo descobriu-se o café na classificação dos alimentos funcionais, que são todos os alimentos ou bebidas que, consumidos na alimentação cotidiana, podem trazer benefícios fisiológicos específicos, graças à presença de ingredientes fisiologicamente saudáveis (RAMOS, SANTOS, JUNIOR, 2007).

2. Alimentos Funcionais

Os alimentos funcionais fazem parte de uma nova concepção de alimentos, lançada pelo Japão na década de 80, através de um programa de governo que tinha como objetivo desenvolver alimentos saudáveis para uma população que envelhecia e apresentava uma grande expectativa de vida.
O Comitê de Alimentos e Nutrição do Instituto de Medicina da Federação Náutica de Brasília define alimentos funcionais como qualquer alimento ou ingrediente que possa proporcionar um benefício à saúde, além dos nutrientes tradicionais que eles contêm, ou seja, os alimentos funcionais devem apresentar propriedades benéficas além das nutricionais básicas, sendo apresentados na forma de alimentos comuns. São consumidos em dietas convencionais, mas demonstram capacidade de regular funções corporais de forma a auxiliar na proteção contra doenças como hipertensão, diabetes, câncer, osteoporose e coronariopatias.
O Ministério da Saúde no Brasil, através da Agencia Nacional de Vigilância Sanitaria (ANVISA), regulamentou os Alimentos Funcionais nas seguintes resoluções: ANVISA/MS 16/99; ANVISA/MS 17/99; ANVISA/MS 19/99, que apresentamos em anexo deste trabalho.
Os alimentos funcionais são considerados promotores de saúde por estarem associados à diminuição dos riscos de algumas doenças crônicas, uma vez que são alimentos naturais ou preparados, contendo uma ou mais substâncias funcionais. Deve ressaltar-se a importância destes compostos no aumento da expectativa de vida da população, uma vez que o crescente aparecimento de doenças crônicas tais como a obesidade, a aterosclerose, a hipertensão, a osteoporose, o diabetes e o câncer têm ocasionado preocupação com a alimentação, por parte da população e dos órgãos públicos da saúde. (RAMOS, 2007).

3. Café

O cafeeiro pertence à família botânica Rubiaceae que contém cerca de 500 gêneros e mais de 6000 espécies, sendo que as duas mais importantes economicamente são a Coffea arábica (Café Arábica) representando mais de 70% da produção mundial, e a Coffea canephora (Café Robusta). O grão já é conhecido a aproximadamente mil anos no Oriente Médio, porém só chegou ao Brasil em 1727 sendo cultivado no Vale da Paraíba em São Paulo (RAMOS, 2007).
Atualmente, o café tem grande importância na economia mundial. Seu mercado internacional movimenta anualmente recursos na ordem de 15 bilhões de dólares. O café é a bebida mais consumida no mundo e o segundo maior mercado depois do petróleo (RAMOS, 2007).
O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café e o segundo maior consumidor, atrás apenas dos EUA. O consumo do café torrado, moído e solúvel no Brasil no período de abril de 2006 a abril de 2007 foi de 15,95 milhões de sacas de 60 quilos. Até hoje o café mantêm-se como uma das riquezas do Brasil, já que apresenta considerável participação nas exportações do Brasil.

3.1. Regulamentação legal

No Brasil, existe uma associação que regulariza o café produzido, consumido: Associação Brasileira das Indústrias do Café (ABIC). Esta visando uma maior segurança ao consumidor, criou o selo de pureza em 1989, que estabelece padrão afim de que se tenha um café livre de impurezas, sem adulteração ou fraudes. Porém, este selo não garante a qualidade das características sensoriais do café.

4. Propriedades funcionais

O café constitui uma bebida de grande popularidade, que é consumida mundialmente, com aroma e sabor característicos diante disso, numerosos estudos concernentes à sua segurança e às implicações na saúde têm sido realizados.

4.1. Efeito hepático da ingestão da bebida de café

Na faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais em 2005, Gleicimara Batista Gomes defendeu sua dissertação que teve como tema “Efeito do café no sistema de biotransformação hepático de ratos durante o crescimento e desenvolvimento”, afim de verificar a ação da bebida no sistema hepático dos ratos no período de 35 dias de vida que corresponde ao do desenvolvimento de crianças até os 12 anos, detectando por fim a possibilidade de causar danos nos hepatócitos dificultando a ação do fígado o que indicaria a não recomendação do consumo da bebida de café por crianças em fase de desenvolvimento. Caso o café alterasse o desenvolvimento do sistema hepático nessa fase da vida, ele ficaria debilitado para metabolizar qualquer outra substância tóxica.
Em sua pesquisa tanto os ratos com dieta normal acrescida de café e os ratos com dieta com redução protéico-calórica, não apontou efeito tóxico do café. Analisando os hepatócitos dos ratos GOMES, chegou a conclusão de que a ingestão da bebida torna o sistema de desintoxicação mais eficiente, pois protege o organismo da ação de xenobióticos tóxicos. E constatou-se que o café modula o funcionamento orgânico, mesmo se o indíviduo estiver sob a ação adversa da desnutrição.

4.2. Efeito protetor: pressão arterial e freqüência cardíaca sob desnutrição

Marclenia Eduardo Ramos, em sua dissertação de mestrado orientada por Tasso Moraes e Santos na Universidade Federal de Minas Gerais colocou primeiramente a importância da boa alimentação para o desenvolvimento fisiológico do ser humano.
A restrição alimentar afeta o organismo de diferentes maneiras, principalmente, durante a sua fase de crescimento e desenvolvimento, ocasionando seqüelas em vários órgãos e sistemas como, por exemplo, elevação da pressão arterial média e aumento da freqüência cardíaca no sistema cardiovascular. (RAMOS, 2007).
Estudos anteriores demonstram que o café torrado não apresenta efeitos sobre a pressão sangüínea em individuos hipertensos, devido à algumas mudanças nas estruturas químicas de ácidos clorogênicos, tais como a migração de grupos, hidrólises ou da fragmentação fenólica e polimerização durante a torra do café (RAMOS, 2007).

Constituintes
 Cafeína: provoca estimulação do sistema nervoso central e do músculo cardíaco, o aumento da diurese e o relaxamento do músculo liso. A cafeína antagoniza os efeitos da adenosina, substância química do cérebro (neurotransmissor) causadora do sono e de alteração na microcirculação, melhorando o fluxo sangüíneo. Em pequenas doses, ela diminui a fadiga, sendo prejudicial se for ingerida em excesso. Uma concentração elevada de cafeína pode afetar os rins, fígado e sistema nervoso.
 Ácidos clorogênicos: constituem os principais compostos fenólicos do café, os quais são importantes para o sabor e aroma da bebida. A fração absorvida do ácido clorogênico e do ácido caféico são suficientes para exercer ação protetora e antioxidante provocar alterações na circulação sangüínea e inibir a oxidação de LDL in vitro, protegendo assim o organismo contra doenças cardiovasculares. A ingestão de ácidos clorogênicos estimula a secreção de ácido clorídrico no estômago.
São polifenóis com ação antioxidante que no processo de torra forma quinídeos, os quais possuem um potente efeito antagonista opióide, isto é, bloqueiam no sistema límbico o desejo excessivo de autogratificação que leva o indivíduo insatisfeito a se deprimir e a consumir drogas como nicotina, álcool e mesmo as ilegais. (RAMOS, 2007).
 Trigonelina: provável fonte do ácido nicotínico (niacina), importante vitamina para o ser humano presente no café e permitindo sua classificação como alimento, devido ao seu valor nutricional.
RAMOS, observou que apesar de os animais do grupo normonutrido (dieta controle) terem ingerido a mesma quantidade de ração em relação ao grupo normonutrido café, o peso final desses animais aos 120 dias de vida foi menor do que aqueles que não receberam café, o que pode ser explicado pelo aumento do metabolismo nesses animais provocado pela cafeína presente no café. Contudo, é importante destacar que a quantidade de café e cafeína oferecida aos ratos foi superior à dieta normal dos humanos e o metabolismo do homem é mais lento do que o dos ratos.

O modelo de restrição alimentar utilizada por RAMOS promoveu aumento da pressão arterial e da freqüência cardíaca nos animais desnutridos, efeitos estes provocados por programação fisiológica causados pela desnutrição neonatal e com o consumo do café a partir do nascimento esses efeitos foram corrigidos, admitindo uma possível secreção de produtos do café ou de metabólitos com atividade funcional.
Em síntese, os efeitos da desnutrição sobre as variáveis estudadas do sistema cardiovascular são revertidos pelo café, sugerindo o café como possível alimento funcional (RAMOS, 2007). RAMOS concluiu seus trabalhos com a seguinte colocação:
De modo geral, a desnutrição, seja do tipo kwashiorkor ou marasmática, principalmente neonatal, promove aumento nos níveis de pressão arterial e de freqüência cardíaca devido às alterações que ocorrem no organismo nos vários mecanismos de controle. No que se refere ao café, como importante alimento funcional, observou-se que o seu consumo exerce uma ação protetora, no sentido de evitar esse aumento nesses parâmetros (RAMOS, 2007).

4.3. Café e o Câncer

O câncer é caracterizado pela formação de uma massa de tecido anormal, cujo crescimento excede e é desorganizado em relação ao tecido normal. Este crescimento persiste mesmo após a interrupção do estímulo que o evocou (ROBBINS et al., 2000). As causas do câncer podem ser internas (geneticamente predeterminadas) ou externas (meio ambiente e aos hábitos ou costumes próprios de um ambiente cultural e social) podendo essas causas se relacionar entre si de variadas formas aumentando a probabilidade de gerar células anormais.
O risco de câncer numa determinada população depende diretamente das características biológicas e comportamentais dos indivíduos que a compõem, bem como das condições sociais, ambientais, políticas e econômicas que os rodeiam.
A quimioproteção contra o câncer pode resultar da ação de uma substância que possa bloquear o início do processo neoplásico, deter ou reverter a progressão das células iniciadas para fenótipos malignos. Pode ocorrer por aumento da desintoxicação ou redução da intoxicação por metabólitos carcinogênicos. Diferentes constituintes do café como cafeína, ácidos clorogênicos, taninos e diterpenos exercem efeitos biológicos num largo espectro de sistemas. Entre os efeitos biológicos encontram-se ações antioxidantes, antimutagênicas e anticarcinogênicas que parecem estar associadas com modificações benéficas sobre o sistema de biotransformação hepático.
Compostos quimiopreventivos seriam também aqueles capazes de interromper ou, ao menos, retardar o desenvolvimento e progressão das células pré-cancerosas para malignas. A cafeína é o mais conhecido constituinte do café devido às suas propriedades fisiológicas e farmacológicas. Além de exercer efeito sobre o sistema nervoso central, a cafeína é outro constituinte do café com atividade antioxidante. As atividades quimioprotetoras do caveol e cafestol parecem estar associadas com modificações benéficas no metabolismo de xenobióticos que incluem inibição de enzimas do citocromo P450, com conseqüente redução na ativação de substâncias mutagênicas/carcinogênicas.
Diversos estudos epidemiológicos mostram relação inversa entre o consumo de café e o risco de câncer em diferentes órgãos como pulmão, mama, faringe e esôfago. Há também uma relação inversa dose-efeito entre o consumo de café e o risco de cirrose hepática, sugerindo que o café poderia inibir o início da cirrose hepática em pacientes alcoolistas e nãoalcoolistas.

Conclusões

 Aumenta eficácia do sistema de desintoxicação

 Modula o funcionamento orgânico até sob desnutrição

 melhoria da irrigação sangüínea e de inibição da oxidação do LDL

 fonte de vitamina do complexo B

 ação anticarcinogênica para o intestino grosso e o fígado.

BIBLIOGRAFIA


http://www.anvisa.gov.br/alimentos/comissoes/tecno_bk.htm#RESOLUÇÕES%20ANVS/MS%20n.º%2016,%2017,%2018%20e%2019/99

http://www.ufmg.br/boletim/bol1474/quinta.shtml

ROBBINS, Stanley Leonard Rosen et al. Patologia estrutural e funcional. Tradução de: Jane Bardawil Barbosa; Marcio Moacyr de Vasconcelos; Patricia Josephine Voeux. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. 1251 p. , il. ISBN 8527705915.

PINTO, Carlos Eduardo et al. Tratamento cirúrgico do câncer de esôfago. Revista brasileira de cancerologia, Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Câncer, v. 53, n. 4, p. 425-430, out./nov./dez. 2007.

RAMOS, Marclenia Eduardo. Efeito protetor do café sobre a pressão arterial e freqüência cardíaca em ratos desnutridos. Dissertação de Mestrado.Belo horizonte, MG. Departamento/Curso ufmg

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